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sexta-feira, 27 de junho de 2008

“Você viu? Esse presidente é boleiro”

Cartaz exposto no Ministério das Relações Exteriores mostra a equipe vencedora da Copa de 58










Presidente Lula e jogadores da Seleção de 58 durante inauguração de exposição em homenagem aos 50 anos da conquista da primeira Copa do Mundo pelo Brasil
A cerimônia durou mais de uma hora e emocionou a quem esteve presente. Num salão do segundo andar do Palácio do Planalto, o Presidente Lula homenageou ontem os jogadores campeões da Copa do Mundo de 1958, na Suécia, a primeira conquistada pela Seleção Brasileira. Encerrado o discurso de quase 30 minutos, Lula entregou uma medalha e uma camisa da equipe canarinho a cada craque. Pouco antes, fez uma promessa que provocou lágrimas no meia Moacir e na mulher do zagueiro Bellini, Giselda. Garantiu que o governo federal vai criar um sistema de aposentadoria para os atletas que fizeram história.

O presidente afirma ter conversado sobre o assunto com os ministros do Esporte, Orlando Silva Júnior, presente no evento, e do Planejamento, Paulo Bernardo. “É para dar uma vida digna aos campeões de 1958”, afirmou Lula. Se o compromisso se tornar realidade, o governo terá feito parte do que a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) prometeu e não cumpriu. Em junho de 2006, durante a Copa da Alemanha, Ricardo Teixeira, presidente da entidade, disse que os campeões de 1958, 1962, 1970 e 1994 teriam um plano de saúde — na ocasião, alguns campeões estavam naquele país a convite da Federação Internacional de Futebol (Fifa). “Não nos deram nada até agora”, garantiu o volante Dino Sani.

Filho do goleiro Gilmar, que não pôde vir porque se recupera de acidente vascular cerebral (AVC), o advogado Marcelo Neves confirma. “O Ricardo Teixeira voltou a falar no plano de saúde um pouco depois, no Rio de Janeiro, mas não tocou mais no assunto”, disse Neves, presidente da Associação dos Campeões Mundiais de Futebol do Brasil, criada em 2006. Ele diz acreditar, porém, nas palavras de Lula. Neves foi visitado na quarta-feira por dois assessores, enviados pelo presidente. “O que Lula disse é fantástico. Luto há dois anos, pedindo ajuda a órgãos e entidades. Nenhum deles (jogadores) ganhou muito com o futebol, tirando o Zagallo e o Pelé. Mas acho que deveria ter um plano de saúde também”, cobrou.

De acordo com Neves, Bellini e Nilton Santos, que sofrem do mal de Alzheimer, e Moacir são os mais carentes. Além disso, Orlando (com AVC) e De Sordi (também com mal de Alzheimer) estão muito doentes. Nenhum dos jogadores nega a necessidade da aposentadoria. Moacir, por exemplo, vive em Loja, no Equador. É professor de futebol em uma escolinha da prefeitura, mas ganha muito pouco. “Preciso da aposentadoria, sim. É importante a gente acreditar nisso. O presidente falou”, afirmou o reserva de Didi. Presente ao evento, Ricardo Teixeira não deu entrevistas.

Inauguração
No fim da manhã, horas antes da festa no Palácio do Planalto, Pelé e o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, estiveram em Samambaia para assinar o documento de lançamento da Vila Olímpica Rei Pelé. A área, de 35 mil metros quadrados, por enquanto só barro, servirá para incentivar a prática de esportes na cidade. O projeto prevê a construção de três piscinas, um ginásio coberto, pista de atletismo, academia e outros espaços.

A inauguração do centro está prevista para janeiro ou fevereiro do ano que vem. O custo da obra, segundo Arruda, é de R$ 7,8 milhões. A Vila Olímpica de Samambaia será a primeira de pelo menos 10 que o Governo do Distrito Federal pretende construir. De acordo com o governo, quatro já estão com licitação pronta — Estrutural, Ceilândia, São Sebastião e Itapoã.

A CBF confirmou ontem que o Bezerrão, no Gama, será palco de amistoso entre Brasil e Portugal. O jogo marcará a reinauguração do estádio, depois de quase três anos de interdição para reformas. O confronto será realizado em 11 de novembro. De acordo com o assessor de imprensa da entidade, Rodrigo Paiva, faltam apenas as assinaturas dos dirigentes portugueses para ratificar o duelo. A informação fora antecipada por Arruda na quarta-feira.

Pelé antecipou a saída de Brasília de amanhã para hoje. Antes, participará do seminário A Conquista de 1958, com os outros jogadores, o radialista Luiz Mendes e Arruda, às 15h, no Teatro Nacional Cláudio Santoro (Sala Villa-Lobos). O evento é gratuito — os ingressos devem ser retirados no local.

Festa descontraída

“Você viu? Esse presidente é boleiro”, disse Pepe, referindo-se ao discurso do Presidente Lula na cerimônia de homenagem aos jogadores campeões do mundo de 1958. O ponta-esquerda afirma ter se impressionado com o gosto de Lula por futebol. “Ele mexeu duas vezes comigo. Disse que eu estava gordo e mal conseguia sentar. E que eu destruía o Corinthians”, afirmou o ídolo do Santos. Lula, que é corintiano, mencionou uma lembrança de cada um dos craques presentes ontem — Zagallo, Pelé, Dino Sani, Mazzola, De Sordi, Bellini, Orlando, Moacir, Zito, Pepe e Djalma Santos.

À vontade, o Presidente divertiu-se. Contou casos antigos, citou estatísticas e não poupou alguns convidados da gozação, como o presidente de honra da Federação Internacional de Futebol (Fifa), o austero João Havelange. “Vocês sabiam que o bicho da vitória contra a Áustria (3 x 0, na estréia brasileira naquela copa) era de U$ 60? E que, do primeiro para o terceiro jogo (2 x 0 sobre a União Soviética), pulou para U$ 100? Esse João Havelange era um mão aberta”, ironizou, provocando risadas da platéia e um sorriso sem graça no velho cartola, que presidia a então Confederação Brasileira de Desportos na época do título.

Zagallo, único dos campeões a sentar-se à mesa com as autoridades presentes, lembrou que a Seleção Brasileira partiu desacreditada rumo à Suécia. “Pouco antes de ir, jogamos um amistoso contra o Corinthians, que entrou em campo sob um foguetório. Mas ganhamos do seu time por 5 x 1”, brincou o ponta-esquerda, olhando para Lula. O Velho Lobo, sem querer, descartou a possibilidade de o pentacampeão Brasil faturar a próxima Copa, em 2010, na África do Sul. “Nós ainda não vencemos em casa. Se Deus quiser, em 2014 ganharemos nosso sexto Mundial”, disse Zagallo, surpreso quando todos riram.“O que eu falei, gente?”

Após a entrega das medalhas e das camisas da Seleção, todos desceram para saguão do palácio. Depois de uma interminável sessão de fotos ao lado das autoridades, os ex-jogadores desataram uma fita verde para oficializar a inauguração da mostra Heróis de 58 — as chuteiras da pátria, que exibe fotos da conquista em grandes painéis e vídeos da época. “Muito bonita e bem feita”, aprovou o lateral-direito Djalma Santos. A exposição, gratuita, estará aberta de hoje a 26 de julho, de segunda a sexta-feira (9h às 18h) e aos domingos (9h30 às 14h30).

Além dos campeões, de Lula e de Havelange, participaram da festa o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda; o ministro do Esporte, Orlando Silva Júnior; o vice-presidente da República, José Alencar; o presidente da Câmara dos Deputados, Arlindo Chinaglia; e o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira.

O radialista e comentarista Luiz Mendes também foi convidado, assim como os suecos Kurt Hamrin (ponta-direita) e Bengt Agren, membro do comitê organizador do torneio. Internado em um hospital do Rio, o lateral-esquerdo Nilton Santos não pôde comparecer.

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