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sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Cai a proporção de brasileiros que passam fome



O Brasil conseguiu reduzir em 35,7% o total de pessoas que vivenciam situação grave de privação de alimentos, inclusive experiência de fome, de 2009 para 2013, segundo dados divulgados ontem da Pesquisa Nacional de Amostras de Domicílios (Pnad) sobre Segurança Alimentar, do Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O estudo aponta que 7,2 milhões de brasileiros enfrentaram no ano passado situação grave de falta de alimentos — em 2009, eram 11,2 milhões de pessoas nesta situação. Segundo a pesquisa, a insegurança alimentar grave apresentou reduções importantes ao longo dos últimos dez anos. O indicador caiu de 6,9% do total de domicílios em 2004 para 5,0% em 2009 e, em 2013, atingiu seu patamar mais baixo: 3,2%do total.

São domicílios onde, além de adultos, as crianças também passavam pela privação de alimentos. Para a especialista em sustentabilidade Vivian Blaso, professora da pós-graduação da Faculdade Mackenzie, a melhora da renda e as políticas governamentais de transferência de renda foram fundamentais para essa melhora. "As políticas sociais têm papel importante no acesso à alimentação, e o mesmo vale em relação à melhora da renda, que vem com o aumento real do salário mínimo. Ainda assim, o acesso à alimentação não significa necessariamente que essas pessoas estejam bem nutridas, pois o alimento bom, qualitativo e saudável ainda é muito caro. Daí a preferência de quem acessa ao consumo por produtos processados ou alimentos massificados, pois é o que cabe no orçamento."

A Pnad apontou que o percentual de domicílios que se encontrava em algum grau de insegurança alimentar — desde a preocupação quanto à disponibilidade de alimentos no futuro até passar fome, caiu de 30,2% em 2009 para 22,6% em 2013. No ano passado, 52 milhões de pessoas apresentavam alguma restrição alimentar ou alguma preocupação com a possibilidade de ocorrer restrição, devido à falta de recursos. Dos 65,3 milhões de domicílios no Brasil, 77,4% estavam em situação de segurança alimentar em 2013. Eram 149,4 milhões de pessoas, o equivalente a 74,2% dos moradores em domicílios particulares do país. Isso significa que 21,7 milhões de moradores passaram a ter acesso regular e permanente a alimentos de qualidade e em quantidade suficiente na passagem de 2009 para 2013.

A insegurança alimentar era maior nas regiões Norte e Nordeste, atingindo, respectivamente, 36,1% e 38,1%dos domicílios, e na área rural em todo o país (35,3%). Além disso, a insegurança alimentar era maior em domicílios onde residiam menores de 18 anos (28,8%), entre os pretos e pardos (33,4%) e para aqueles com um a três anos de estudo (13,7%com insegurança moderada ou grave). Para a presidente e fundadora da ONG Banco de Alimentos, Luciana Chinaglia Quintão, não há como negar os avanços, especialmente por conta do Bolsa Família, que tirou milhões de pessoas da situação de miséria extrema. Ainda assim, ela acredita que o número de pessoas que ainda passa fome está subestimado. "Eu vivo isso diariamente, e sei que ainda existe um contingente enorme de pessoas sem acesso à alimentação."

Ela lembra que brasileiros que não têm endereço fixo, por exemplo, ficam fora da pesquisa do IBGE. Embora reconheça as conquistas dos últimos anos, Luciana destaca a importância da busca pelo fim da fome ser permanente. Segundo a ONG Bolsa de Alimentos, dados da Embrapa apontam que, no Brasil, cerca de 26,3 milhões de toneladas de alimentos são desperdiçadas todo ano, quantidade suficiente para alimentar 19 milhões de brasileiros com as três refeições básicas.

Quanto menos serviços coletivos, mais fome

A Pnad apontou que domicílios em insegurança alimentar leve eram menos atendidos por rede coletora de esgoto (44,2%) do que aqueles em segurança alimentar (63,2%). A proporção de domicílios em insegurança alimentar grave atendidos por esse serviço era ainda menor (34,4%). Entre os domicílios com segurança alimentar, 92,0%tinham lixo coletado diretamente; 87,2% contavam com a rede geral de abastecimento de água; e 98,8% tinham banheiro. Para aqueles em insegurança alimentar grave, os percentuais foram 75,2%; 73,6% e 87,5%, respectivamente.

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