Pages

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Em grampo, empresário cobra de estatal dívida de campanha do governador tucano



Interceptações telefônicas feitas pela Polícia Federal indicam que dívidas da campanha de Marconi Perillo (PSDB), eleito pela quarta vez governador de Goiás, foram pagas pelo esquema de fraudes implantado na Saneago, empresa de saneamento do Estado.

Na quarta (24), foi deflagrada a Operação Decantação que investiga o desvio de R$ 4,5 milhões de dinheiro público da empresa que teria sido usado para financiamentos de campanhas eleitorais.

As obras que tiveram recursos desviados contaram com recursos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), BNDES e Caixa Econômica Federal, segundo a PF.

Um dos diálogos interceptados na operação aconteceu em outubro de 2015 entre José Cesario Lopes, empresário que representa a Gráfica Moura, usada na campanha de Perillo, e José Taveira Rocha, presidente da Saneago, e ex-secretário da Fazenda de Perillo.

Na conversa sobre uma dívida de R$ 400 mil da campanha do governador de Goiás realizada em 2014, Cesario diz que o dinheiro cobrado se refere a "campanha da gráfica do governador".

Durante a ligação, o empresário solicita a Taveira Rocha que fale com o Afrêni Leite, presidente do PSDB de Goiás, para que ele pague o que devia à gráfica. Os investigadores acreditam que o pedido foi feito ao presidente da Saneago já que era o esquema envolvendo a empresa que supostamente irrigava o caixa tucano.

Os investigadores têm indícios de que Leite, que também é diretor de expansão da Saneago, destinou para o caixa do PSDB valores ilícios de contratos firmados com a empresa de esgoto que contavam com financiamento público. Tanto Leite quando Taveira Rocha tiveram prisão temporária decretada desde quarta.

Por meio de nota, o PSDB disse que "confia na idoneidade do presidente Afrêni Gonçalves" e que tem contribuído com as investigações. Também afirmou que todas as doações de campanha do PSDB de são legais e foram declaradas à Justiça Eleitoral, que as aprovou, inclusive as de 2014.

O governador Marconi Perillo não quis se manifestar.

DIÁLOGO

Cesario: deixa eu te falar... Você podia me fazer uma favor. O Afrêni tem que passar R$ 200 mil para a gráfica, e eu tô numa situação meio constrangedora lá na gráfica, certo. Você podia dar um empurrão nele para mim, fazendo o favor?

Taveira: Ele tem que pagar o quê?

Cesario: é o negócio do governador.

Taveira: hein?

Cesario: da campanha. É negócio do governador, da campanha.

Taveira: eu tenho que falar com quem... com...

Cesario: com Afrêni.

Taveira: pois é, mas o que ele tem que pagar você?

Cesario: R$ 200 mil.

Taveira: ah... sei... é de que isso?

Cesario: é da campanha da gráfica do governador.

Taveira: ah, sei, isso ficou para ele?

Cesario: ficou R$ 200 mil para ele.

Taveira: ahn...

Cesario: R$ 200 mil pro... pro... R$ 200 mil pro da Agetop.

Taveira: ahh

Cesario: e R$ 200 mil do Afrêni.

Taveira: então é R$ 400 mil?

Cesario: é.

OPERAÇÃO DECANTAÇÃO

Investigações da PF indicam que dirigentes e colaboradores da Saneago promoveram licitações fraudulentas por meio de contratação de uma empresa de consultoria envolvida no esquema. Ainda segundo a polícia, essa consultoria teria direcionado dinheiro a beneficiários de propina, entre eles o PSDB. Indícios apontam que parte dessa verba teria sido usada para pagar dívidas da campanha de 2014 de Marconi Perillo.

A investigação começou com o levantamento de crimes de licitação para o fornecimento de estação elevatória de água do sistema de abastecimento de Luziânia, o Corumbá IV. Posteriormente, também foram identificados indícios de fraudes na ampliação do sistema de esgotamento de Goiânia, o Meia Ponte. Segundo o Ministério da Transparência, que atua nas investigações em conjunto com a PF e o Ministério Público Federal, houve direcionamento de licitação e outras irregularidades que geraram prejuízo efetivo de mais de R$ 4,4 milhão e prejuízo potencial de R$ 7,7 milhões.

QUARTO MANDATO

Em 2014 Marconi Perillo (PSDB) foi reeleito para um novo mandato de governador de Goiás, o quarto de sua carreira política. Ele teve 57,44% dos votos, vencendo o peemedebista Iris Rezende, que teve 42,56% votos.

O Mandato anterior de Perillo (2010 - 2014) foi marcado por denúncias da ligação do seu governo com o contraventor Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, alvo da operação Monte Carlo.

0 Comentários:

Postar um comentário


Meus queridos e minhas queridas leitoras

Não publicamos comentários anônimos

Obrigada pela colaboração