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domingo, 18 de junho de 2017

Fora dos trilhos



Tivessem as obras metroferroviárias a mesma celeridade com que se acumulam suspeitas de práticas ilícitas no setor, a Grande São Paulo poderia se vangloriar de possuir um dos sistemas de transporte de massa mais extensos do mundo.

Pelo contrário, escândalos diversos somam-se à ineficiência dos governos tucanos, que se sucedem no Estado desde 1995, em atender as demandas da população em um serviço tão vital.

No episódio mais recente, o Ministério Público paulista apresentou denúncia de que a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) superfaturou em R$ 538 milhões seis contratos de manutenção de trens, de 2012 a 2013, na gestão de Geraldo Alckmin.

Um ex-presidente e três diretores da empresa estadual são apontados como coordenadores de um cartel. Segundo a denúncia, contratos firmados com valores abaixo daqueles de referência no mercado, em aparente economia para o Estado, foram, sete meses depois, reajustados em até 83%.

A promotoria afirma ter encontrado provas contra quatro empresas contratadas. Outras vencedoras da licitação também já respondem a ações por casos similares.

No começo de maio, ex-dirigentes da CPTM e ex-executivos de multinacionais do setor —como a alemã Siemens, a francesa Alstom e a japonesa Mitsui— tornaram-se réus por suspeita de fraude nas licitações da linha 5-lilás do Metrô, em esquema que teria sido articulado de 1999 a 2000, na gestão de Mário Covas.

Essas investigações originam-se de depoimentos da Siemens, que em 2013 revelou a autoridades brasileiras a existência de um cartel do qual fazia parte. O grupo teria se articulado durante as administrações de Covas, José Serra e Alckmin, a partir de 1998.

Ainda que nenhum desses expoentes tucanos tenha sido implicado pessoalmente nas suspeitas, a imagem de eficiência e retidão vendida pelo partido sai fustigada diante da profusão de indícios de malversação —afora o atraso inequívoco das obras do setor.

Há pelo menos 15 anos os governos do PSDB prometem a ligação do aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, com o centro de São Paulo. Na gestão Alckmin, todas as obras em andamento para a expansão da rede do metrô em São Paulo estão fora do prazo.

Também difícil de explicar é a morosidade das investigações e punições. Passados quase quatro anos, desconhece-se ainda a real extensão do esquema. Para prejuízo da população, o trajeto na Justiça segue tão lento e tortuoso quanto o dos trilhos paulistas.Editorial da Folha

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