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terça-feira, 8 de maio de 2012

Por que o Estadão não quer apurar bomba em sua sede, em 1983?

Explosão de um carro "Voyage" em frente ao Estadão em 14 de novembro de 1983.
No início da década de 80, agentes dos serviços secretos da ditadura, contrários à  redemocratização, praticaram atentados visando tumultuar e gerar retrocesso. Havia explosão em bancas de jornais que vendiam periódicos de esquerda, houve o atentado na OAB, no Rio de Janeiro, que matou a secretária Lida Monteiro, e o mais famoso de todos, a bomba do Riocentro.

Em 14 de novembro de 1983, houve o último atentado da ditadura: no estacionamento do prédio do jornal "Estadão", inofensivo, sem vítimas (foto acima do próprio jornal).

O jornalão deveria ser o maior interessado nas revelações do ex-delegado Cláudio Guerra no livro "Memórias da Guerra Suja", pois ele assume a autoria (sob ordens superiores) e descreve passo-a-passo a operação.

No entanto o jornalão parece que não gostou, pois até o momento desta nota, nada publicou sobre esta revelação.

Eis seu relato publicado no Poder Online:



Claudio Guerra diz ter mandado montar um Voyage numa oficina do Espírito Santo sobre chassis, motores e latarias de diferentes veículos, a fim de não ser identificado posteriormente. E que ele mesmo levou o carro até São Paulo.

O ex-delegado relata detalhes de como preparou a bomba:

“Usei um botijão de gás, um quilo de C4 na boca do botijão, e coloquei uma espoleta elétrica para funcionar como descarga do positivo com o negativo. O despertaror marcava a hora e liguei os fios nos ponteiros. Quando estes se encontrassem, fechariam os dois pontos positivo e negativo. Os ponteiros acionariam a espoleta e descarga elétrica faria explodir o C4.”

Segundo o terrorista, a ordem que recebeu do coronel Freddie Perdigão e do comandante Vieira era tentar “chamar atenção, fazer barulho, mas sem vítimas”.

Ele teria se hospedado em um hotel no Centro de São Paulo junto com uma agente do SNI de codinome Tânia, que se fingiu de sua mulher e o ajudou a levar o carro para o local.

“Aí aconteceu a explosão. foi aquele fogaréu. O fogo subiu. Houve danos, a parede queimou toda. O governo atribuiu o atentado à esquerda, mas alguns órgãos de imprensa já alertavam que poderia ser de autoria de grupos militares descontentes com o processo de abertura.”



Eis o vídeo do ex-delegado falando sobre o episódio:



Mais estranho ainda foi tentar colocar dúvidas sobre outros relatos do ex-delegado, apontando contradições que não existem.

Segundo o Estadão, há contradição em dois relatos:
- em outro livro biográfico mais antigo sobre o delegado (faltou informar em que ano foi escrito), diz: “Em setembro de 1975, o já experiente delegado Cláudio Antonio Guerra foi nomeado para chefiar a temida Delegacia de Ordem Política e Social, a Dops”.

- No novo livro, Guerra conta que virou “combatente dos subterrâneos da batalha contra a guerrilha no segundo semestre de 1972” e já era integrante do Dops há tempo.

Ora, não há qualquer contradição entre ser integrante do Dops antes sem ser chefe, e ter se tornado chefe em 1975.

No mesmo livro, Guerra relata um falso atentado, em 1976, na mansão de Roberto Marinho. A explosão foi encomendada pelo próprio dono das Organizações Globo, para posar de vítima, segundo ele.

Cabe perguntar por que o Estadão, maior interessado, acha incômodo apurar a autoria e os mandantes do suposto atentado do qual teria sido alvo?

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